Século XVIII, escola flamenga
A aparição do anjo aos pastores
Óleo sobre tela, cm 54x69
Com moldura, cm 78x90
Numa noite escura e profunda, a atmosfera sombria é subitamente iluminada por uma luz sobrenatural que atravessa as trevas. No centro deste fulgor etéreo, um anjo majestoso faz a sua aparição, suspenso sobre nuvens suaves que irradiam a sua própria luz. A sua figura é imponente, mas serena, com asas amplas e vaporosas que se desdobram num tripúdio de claro-escuro. O seu olhar pousa sobre os pastores abaixo, a mão estendida num gesto eloquente, quase como querendo comunicar uma mensagem de alcance divino. Os pastores, apanhados de surpresa, reagem com uma mistura de espanto e temor reverencial. Alguns estão ajoelhados, quase prostrados pela magnificência da visão, com as mãos juntas em oração ou levantadas em sinal de maravilha. Os seus rostos, iluminados pelo brilho celeste, expressam uma emoção intensa, um sentido de sacralidade que invade toda a cena. Notamos as suas vestes simples e os seus humildes instrumentos de trabalho abandonados ao lado deles, a sublinhar a sua condição de pessoas comuns escolhidas para assistir a um evento extraordinário. O artista flamengo responsável pela execução da pintura mostra-se plenamente capaz de jogar com os contrastes de luz e sombra, aproximando-se dos principais mestres operacionais a norte dos Alpes naquele período. A escuridão envolvente da paisagem noturna faz sobressair ainda mais a luminosidade intensa que emana da figura angelical e das nuvens circundantes, criando uma atmosfera mística e transcendental. Pequenos anjinhos, quase cupidos luminosos, flutuam em torno da figura principal, acrescentando um toque de graça e dinamismo à composição. A paisagem circundante é apenas esboçada, com algumas árvores escuras que se destacam contra o céu noturno, focando a atenção do espectador no evento miraculoso em primeiro plano. Percebe-se o silêncio sagrado da noite interrompido apenas pela potência visual da aparição angelical. Esta pintura captura um momento de Epifania, uma irrupção do divino no mundo terreno, com uma sensibilidade tipicamente barroca, rica em dramatismo e 'pathos'. A habilidade do artista em tornar a reação humana perante o sobrenatural e a majestosidade da figura angelical torna esta obra uma eficaz narração visual de um dos episódios mais significativos da tradição católica, o do anúncio do anjo aos pastores do nascimento do Messias em Belém.