SAGRADA FAMÍLIA COM SÃO JOÃO BATISTA
Óleo sobre tela – cm. 74,4 x 63,5
obra de
VALERIO CASTELLO (Gênova, 1624 – ivi, 1659)
OBRA RARÍSSIMA DE GRANDE MUSEU INTERNACIONAL
(vd. expertise do Prof. Jürgen Winkelmann)
Notas biográficas e estilísticas sobre Valerio Castello, gênio moderno
(a cargo do Prof. Giovanni Morsiani)
Valerio Castello (Gênova, 22 de dezembro de 1624 – Gênova, 17 de fevereiro de 1659)
Desde muito jovem, rompeu com a tradição pictórica genovesa. Sua personalidade marcante o levou a se distanciar da corrente naturalista em voga na Gênova dos anos Quarenta do século XVII e a fazer escolhas totalmente autônomas. Através de uma recuperação dos mestres do Maneirismo quinhentista, uma atualização buscada em outros lugares, em Parma e Milão, e uma observação atenta das obras dos flamengos e venezianos presentes em abundância nas coleções genovesas, ele deu um novo curso à temporada barroca, conferindo essa virada de meados do século sob o signo de uma pintura dinâmica, alegre e musical.
No âmbito da cultura figurativa genovesa, ninguém como ele soube interpretar, através da vivacidade do ritmo compositivo e da exuberante efervescência cromática, o sentimento novo de uma época na qual os fatores dominantes foram a representação do grande espaço barroco e a teatralidade persuasiva. Apesar do alcance inovador de sua arte, Valerio Castello apareceu como um artista solitário, inacessível no plano da estrita emulação: mas os destinos da pintura genovesa permaneceram tão profundamente impressionados por sua experiência artística que, após sua fulminante aparição, nada permaneceu como antes. Somente o passar de várias décadas permitiu ao ambiente metabolizar tanta audácia expressiva, favorecendo a afirmação de artistas como Gregorio de Ferrari e, no encerramento do grande século da pintura genovesa, de Alessandro Magnasco.
1624
Nasce em Gênova em 22 de dezembro, filho do pintor Bernardo Castello, que morrerá cinco anos depois. Valeriano - assim o recorda o documento de batismo conservado no Arquivo paroquial da igreja de San Martino d'Albaro - parece ter sido educado em grande parte pelo irmão mais velho, Torquato.
1634 - 1640
Nas Vite de' Pittori, Scoltori et Architetti Genovesi (1674), o biógrafo Raffaele Soprani afirma que Valerio demonstrava precoces aptidões para a pintura, cultivadas em solidão em confronto com os afrescos que Perin del Vaga, aluno de Raffaello, havia deixado um século antes em Gênova no palácio do Príncipe Doria em Fassolo. Logo foi colocado como aprendiz de um dos artistas mais célebres da época, Domenico Fiasella (1589-1669), para depois passar para o de Giovanni Andrea De Ferrari (1598-1669). Tanto o pai falecido prematuramente quanto os supostos mestres não exerceram nenhuma influência apreciável sobre o futuro percurso estilístico.
1640 - 1645
Os primeiros anos Quarenta do século XVII, aqueles em que Valerio passa dos dezesseis aos vinte anos, são de grande ebulição para as artes na cidade sob o signo da investigação naturalista e da acentuação de uma poética dos afetos devida a artistas como Domenico Fiasella, Orazio De Ferrari, Giovanni Andrea De Ferrari, Luciano Borzone, Giovanni Battista Carlone. Ao mesmo tempo, as quadrerias hospedadas nos extraordinários palácios e igrejas iam se incrementar com um considerável número de obras “estrangeiras” provenientes de Milão, da Emilia, do Vêneto, de Roma, da Flandres: por exemplo, a extraordinária crucificação de Federico Barocci na catedral de San Lorenzo, ou a Última Ceia de Giulio Cesare Procaccini na igreja da Santíssima Anunciação, mas sobretudo os Van Dyck das coleções privadas, pintados entre 1621 e 1627, e as duas telas capitais de Rubens para a igreja do Gesú. Estes são os textos sobre os quais também o jovem Valerio estuda e se forma. É provável assim, que as viagens a Milão e Parma, ocorridas nesta primeira metade da quinta década do século, e o consequente estudo minucioso dos milaneses do início do século XVII (Procaccini, Morazzone e Cerano) e dos grandes mestres emilianos do século XVI (Corrreggio e Parmigianino), permitiram um aprofundamento de estímulos já absorvidos em sua terra natal.
1647
Provavelmente Valerio pinta neste momento, para o ciclo do oratório de San Giacomo della Marina, a tela com a Vocação de São Tiago. Na segunda, retratando o Batismo de São Tiago, para o mesmo ciclo, aplica uma nova concepção do espaço de cunho veronese.
1648
Valerio assina e data a tela da igreja de San Siro em Santa Margherita Ligure retratando São Sebastião entre os santos Lourenço e Roque.
1649
Provavelmente cai neste ano a execução da extraordinária e rubensiana Conversão de São Paulo, visitável na Galleria Nazionale di Palazzo Spinola di Pellicceria e proveniente da igreja monástica de São Paulo de Prè. O comitente foi Giovanni Battista Balbi, que com este trabalho, destinado ao convento onde residiam algumas de suas filhas freiras, parece ter colocado o artista à prova antes de confiar-lhe os afrescos para seu palácio. No mesmo ano, realiza para a capela dedicada a São Francisco Xavier na igreja do Gesú três telas com fatos da vida do santo.
1650, pós
A este momento remetem os afrescos para a igreja de San Martino di Albaro, onde a Assunção da Virgem é configurada como uma envolvente máquina barroca de grande impacto.
1653
Pinta, assinando-os e datando-os no verso, dois pequenos óleos sobre cobre, São Francisco recebe os estigmas e Santa Clara em adoração do Santíssimo Sacramento, registrados em 1688 entre as pinturas de propriedade de Filippo Spinola de Massimiliano, conde de Tassarolo.
1653-1654
Até a primavera de 1654, talvez já a partir dos últimos meses do ano anterior, Valerio trabalha no palácio de Giovanni Battista Balbi (hoje Palazzo Reale), afrescando o teto do salão da Fama, entre as quadratura do ascolano Giovanni Maria Mariani, que permaneceu na cidade, precisamente, entre setembro de 1653 e maio seguinte. Castello, justamente na patrícia residência, encontra estímulos importantes: no salão ao lado daquele em que trabalha, o afresco de Agostino Mitelli e Angelo Michele Colonna com a Alegria que afasta o Tempo, pintado apenas dois anos antes de sua Fama, constitui o ideal ponto de partida.
1654-1656
Da segunda metade de 1654 Valerio se muda para trabalhar em outro próximo palácio Balbi. O pintor está de fato empenhado na decoração a fresco de numerosos ambientes no segundo andar nobre do palácio de Francesco Maria Balbi, primo de Giovanni Battista (hoje Palazzo Balbi Senarega, sede da Universidade, via Balbi 4), desta vez ao lado de Andrea Sighizzi, quadraturista bolonhês documentado em Gênova entre junho de 1654 e janeiro de 1655. Os afrescos se sucedem ao longo das paredes dos diversos ambientes: do teto da galeria-loggia com vista para o jardim com o Rapto de Proserpina e a Queda de Fetonte, ao Carro do Tempo no teto do salão central, à sala de Leda, àquela de Paz com Alegria e Abundância. A peste, que eclodiu em meados de 1656 com numerosas vítimas entre os pintores, os arquitetos e os comitentes, deve ter verossimilmente interrompido os trabalhos, concluídos depois por Valerio no último biênio de sua brevíssima existência.
1655
Pinta, assinando-a e datando-a, a majestosa tela com os Santos Marcos Evangelista, João Batista, Cecília, Martinho e Lourenço para a paroquial de Recco. Realiza, em óleo sobre ardósia, uma Madonna com o Menino Jesus e São Lucas, assinada e datada sobre o plinto, provavelmente destinada a marcar devocionalmente uma pequena edícula votiva. Em 17 de dezembro do mesmo ano é pago pela execução da Madonna com o Menino Jesus entre os santos João Batista e Jorge (Gênova, Museus de Strada Nuova - Palazzo Bianco), destinada ao escritório dos Padres do Comum no Palazzo Ducale.
1657
Terça-feira, 26 de junho, Valerio, poucos meses antes de se casar, dita um testamento ao notário Franco Bagnasco. Os legados são dirigidos exclusivamente a pessoas da família: à mãe, ao irmão Torquato e à irmã Tecla Maddalena. Em 12 de outubro, Valerio se casa, na paroquial de San Martino di Albaro, com Paola Maria Deferrari. Os noivos irão morar em uma casa que Bernardo Castello possuía na cidade, precisamente “in carubeo nuncupato delli Angeli o sia Testa dell'Oro parochie S. Marie Magdalene”.
Fim de 1657-1659
Entre o fim da peste e o início de 1659 devem datar os restantes trabalhos a fresco: a conclusão dos decorações, já iniciadas, no palácio de Francesco Maria Balbi, e, ao lado de Paolo Brozzi e Domenico Piola, as pinturas no teto da igreja de Santa Marta; os afrescos na fachada de uma casa na praça San Genesio (perdidos); os trabalhos para Santa Maria in Passione, conhecidos apenas por alguns desenhos preparatórios e antigas fotografias.
1658-1659
A 18 de março e 30 de outubro de 1658 datam os documentos relativos à construção do casino de Giovanni Battista Nascio, decorado por Castello com episódios extraídos das Metamorfoses de Ovídio, entre as quadratura de Paolo Brozzi e a copresença de Domenico Piola. Já no século XVIII estes afrescos não eram mais conservados.
1659
Com a idade de trinta e quatro anos, em 17 de fevereiro, morre repentinamente e em circunstâncias ainda desconhecidas. Está sepultado no túmulo da família na igreja de San Martino d'Albaro. Domenico Piola, colaborador predileto, completará a maior parte dos trabalhos que ficaram interrompidos.
Prof. Giovanni Morsiani
site web: www.palazzodelbuonsignore.com
Medidas A x L x P cm. 74,4 x cm. 63,5 x